domingo, 27 de abril de 2025

Tu, aí


É bem possível que tenha chegado aos cem,

vivido até aos cento e qualquer coisa,

porque cada vez se morre mais tarde,

mas não sei, se da melhor maneira.

 

Mas se Tu aí, onde estiveres,

tomaste conhecimento desta mensagem

e da minha existência e a quiseres mudar,

em qualquer altura, a meu pedido, claro,

faz o favor de o fazer agora,

quando ainda tenho cinquenta, já feitos,

em dois mil e nove, do calendário gregoriano.

 

E assim, outro tanto poderei usufruir.

Encontro-me aqui, por Sete Rios,

pertencente a uma espécie do reino animal, o Homo Sapiens,

em Lisboa, a cidade da saudade, onde desagua o Tejo,

neste pequeno país europeu, chamado Portugal,

banhado pela imensidão do Atlântico,

no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,

onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à vida,

e pelo poder,

e pela sobrevivência,

e em nome de deus(es),

e por prazer,

localizado entre biliões de outras estrelas da Via Láctea,

que integra com mais de três dezenas de galáxias o Grupo Local,

no Superaglomerado de Virgem,

etc., etc., etc…

 

Liberta-me deste Ego, enorme, doentio,

herança canceriana, que me abafa a inteligência

que me liga ao Universo,

prende-me à insignificância que não (pres)sinto,

e à Terra,

à forma,

ao estilo…

Porque sou o que nem sei,

e quero evoluir,

seguir o movimento da espiral,

sentir-me em casa,

e paz.

 

E não me canso de olhar para este céu,

onde se desenha o presente,

num relógio meu, com dez ponteiros,

e Te procurar mais além, nas estrelas.

Mas, se aí Te visse, estarias em outro tempo,

talvez, quando reinava o Luís XIV,

e eu, aí, nem Te (re)conhecesse.

 

Haverá outro caminho,

e terei, sempre em dois mil e nove,

feito cinquenta,

e à Tua espera.

 

 

João Marques Jacinto

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