quarta-feira, 30 de abril de 2025

A Queda do Falso Deus


Eras cinzel e foice,

grito de fogo e escuridão,

moldaste o medo em lei,

os homens em servos,

as mulheres em silêncio.

 

Assentaste o trono

sobre o sangue das cidades,

lançaste pragas,

decretaste mortes,

como quem semeia

na terra o sal.

 

Fizeste da culpa um altar,

das correntes, mandamentos.

Chamaste justiça

à tua fome de obediência,

vingança ao que te negava.

 

Mas o tempo é juiz maior.

Hoje, se andasses entre nós,

serias julgado,

trancado num hospício,

sentenciado

como um deus obsoleto.

 

Queimamos os livros

onde escondeste teus crimes.

Rasgamos os véus

que nos cobriam os olhos.

De ti, nada resta

senão a poeira

da tua promessa vazia.

 

Mas eis que ainda rastejam

sobre tronos gastos,

os que te imitam

como sombras tardias.

 

Pálidos reis sem reinos,

vomitam o velho veneno,

erguem bandeiras sujas

de um tempo que já não é.

 

Querem ser o Deus do Poder,

decretar a verdade,

dobrar a vontade do mundo

à sua fome insaciável.

 

Mas já não trememos.

Já não baixamos os olhos.

O tempo que os moldou

os apagará,

como apaga a cinza ao vento.

 

E sob as ruínas

erguemos outro templo.

Não de pedra,

mas de corpos vivos,

não de medo,

mas de pulsação inteira.

 

Agora, na órbita do Todo,

somos centelha e infinito,

gota e mar,

eco e voz.

 

Nenhuma lei nos dobra,

nenhuma culpa nos prende,

pois a Inteligência do Amor

desfaz grilhões,

acende o sol dentro de nós.

 

Já não vergamos joelhos,

nem pedimos salvação,

porque sermos é suficiente,

porque vivermos

é sermos parte do Todo.

E assim germinamos,

 

íntegros,

universais.

 

 

(No entanto, a verdadeira liberdade só será alcançada quando a história quebrar as correntes do império e o homem for capaz de se desprender das ficções que ele próprio construiu para se escravizar.)

 

 

 

 

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