Se eu voasse
ao céu de toda a fantasia,
somente aves e aviões
teria para colmatar minha solidão,
como companhia.
A não ser que te vestisses como dantes,
pusesses teu par de asas de coragem
e houvesse o desejo de planar comigo
no topo de toda a aventura.
E, no tempo que nos restasse,
ainda surgissem vestígios do que se perdeu,
para que definitivamente se aceitasse
e, logo de seguida, a oportunidade
de voltarmos a acontecer.
Procuraríamos o lugar
onde habitualmente faz ninho a Primavera,
e lá faríamos a nossa noite,
com disfarces de andorinha,
até que se diluíssem todas as memórias do Inverno.
Se eu voasse,
devolver-te-ia todo o azul
e desenharíamos, acima do nosso horizonte,
outro arco de renovada aliança.
Se me perdesse de ti,
poisaria numa nuvem cinza-escuro,
até que as águas rebentassem
e, devolvido fosse, por entre a chuva,
meu corpo à Terra,
e assim permanecesse livre
de todas as penas
e apenas à tua espera.
Todos os dias o faço,
na realidade de qualquer instante,
desejando-te simples,
sem que precises de asas,
e imperfeita.
João Marques Jacinto
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