sábado, 26 de abril de 2025

Se eu voasse


Se eu voasse

ao céu de toda a fantasia,

somente aves e aviões

teria para colmatar minha solidão,

como companhia.

 

A não ser que te vestisses como dantes,

pusesses teu par de asas de coragem

e houvesse o desejo de planar comigo

no topo de toda a aventura.

 

E, no tempo que nos restasse,

ainda surgissem vestígios do que se perdeu,

para que definitivamente se aceitasse

e, logo de seguida, a oportunidade

de voltarmos a acontecer.

 

Procuraríamos o lugar

onde habitualmente faz ninho a Primavera,

e lá faríamos a nossa noite,

com disfarces de andorinha,

até que se diluíssem todas as memórias do Inverno.

 

Se eu voasse,

devolver-te-ia todo o azul

e desenharíamos, acima do nosso horizonte,

outro arco de renovada aliança.

 

Se me perdesse de ti,

poisaria numa nuvem cinza-escuro,

até que as águas rebentassem

e, devolvido fosse, por entre a chuva,

meu corpo à Terra,

e assim permanecesse livre

de todas as penas

e apenas à tua espera.

 

Todos os dias o faço,

na realidade de qualquer instante,

desejando-te simples,

sem que precises de asas,

e imperfeita.

 

 

João Marques Jacinto

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