Sou pedaço de vida,
deitado na Sombra
de uma multidão.
Sou força vencida,
mergulhada e perdida
em desilusão.
Sou dor viciada
em choro e pranto,
sem poder fugir.
Sou, no sofrimento,
o espelho do tempo,
sem nunca o medir.
Sou um rosto secreto
e incompreendido
na palavra "sim".
Sou um resto de gente,
vergado ao silêncio.
Não se riam de mim.
Sou povo enjeitado,
em nudez sem encanto,
carrego minha cruz.
Sou um fado pesado,
sou compasso trinado,
sou canto sem luz.
Se digo o que sinto
e minto no que sou,
não o faço por querer.
Não me disfarço
nem me escondo
no falso sentido
do que acabo por ser.
Se me dou e desfaço,
se luto esquecido
e vivo insatisfeito,
sou, no cinzento-tristeza,
verbo conjugado
pretérito imperfeito.
Sou um rio parado,
sem margens, sem leito,
sem fundo, sem foz.
Uma barca sem remos,
sem redes, sem leme,
sem velas, sem nós.
Sou tarde poema,
de versos sem rima,
lenta de se pôr.
Sou, por entre o nevoeiro,
o que desaparece
e se apaga de cor.
Sou um resto de gente,
o que sobra do início,
o que falta para o fim.
Vergado ao silêncio,
não se riam mais de mim.
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