Nunca me senti poesia,
mas tentei dobrar-me à vida em verso,
mexer nas palavras,
juntá-las em metáforas tortas,
comparações forçadas,
personificações sem alma.
Tentei a anáfora,
mas repeti-me em vão.
Forcei a aliteração,
mas tropecei na língua.
Joguei com hipérboles desmedidas,
criei paradoxos sem mistério,
e cada sinestesia
soou como um eco sem cor.
Inventei palavras que não existem,
neologismos absurdos,
virados do avesso,
mas nem isso me fez poeta.
Gastei a tinta,
manchei as folhas,
enganei-me, corrigi-me,
e a papeleira encheu-se
dos meus enganos.
Mas mesmo na falha,
mesmo sem acertar a dança,
foi a poesia que me ouviu,
que me deixou sangrar em silêncio,
que embalou os meus demónios
e iludiu-me a sonhar.
Não sou poeta,
sou um fingidor mal-escrito.
Mas brinco,
outras vezes sou tão sério,
que a própria vida, se escreve em mim.
A poesia, essa dançarina esquiva,
talvez um dia me encontre
onde nem eu sabia estar.
E me abençoe,
ensine a viver.
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