quarta-feira, 30 de abril de 2025

A Ilusão do Poeta


Nunca me senti poesia,

mas tentei dobrar-me à vida em verso,

mexer nas palavras,

juntá-las em metáforas tortas,

comparações forçadas,

personificações sem alma.

 

Tentei a anáfora,

mas repeti-me em vão.

Forcei a aliteração,

mas tropecei na língua.

Joguei com hipérboles desmedidas,

criei paradoxos sem mistério,

e cada sinestesia

soou como um eco sem cor.

 

Inventei palavras que não existem,

neologismos absurdos,

virados do avesso,

mas nem isso me fez poeta.

 

Gastei a tinta,

manchei as folhas,

enganei-me, corrigi-me,

e a papeleira encheu-se

dos meus enganos.

 

Mas mesmo na falha,

mesmo sem acertar a dança,

foi a poesia que me ouviu,

que me deixou sangrar em silêncio,

que embalou os meus demónios

e iludiu-me a sonhar.

 

Não sou poeta,

sou um fingidor mal-escrito.

Mas brinco,

outras vezes sou tão sério,

que a própria vida, se escreve em mim.

A poesia, essa dançarina esquiva,

talvez um dia me encontre

onde nem eu sabia estar.

E me abençoe,

ensine a viver.

 

 

 

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