Um comerciante, que ao longo dos anos fundara e
arruinara várias mercearias, jamais conseguira compreender o que
verdadeiramente movia os seus clientes. Entregava-se a caprichos desmesurados e
a um desejo insaciável de lucro imediato, sem jamais se curvar ao saber das
reais necessidades dos fregueses que o sustentavam. Cada fracasso era um
reflexo do seu egoísmo, que o cegava à essência do comércio, reduzindo-o a uma
busca incessante por gratificação própria.
Cansado de ver os seus negócios ruírem, decidiu
aventurar-se na política, onde a sua faceta de negociante encontrou um novo
palco. Com a arrogância de quem acredita que a gestão de um povo pode ser
reduzida a um jogo de trocas e conveniências, candidatou-se à presidência e,
surpreendentemente, triunfou. Muitas foram as suas promessas, assim como as
mentiras que contou. Com um sorriso largo, mas desprovido de qualquer
verdadeira compreensão das responsabilidades que lhe cabiam, lançou-se à tarefa
de governar como se administrasse um supermercado, onde as pessoas eram
mercadorias e os problemas, prateleiras a serem arrumadas conforme o seu gosto
pessoal.
A sua psique, mescla de vaidade e insaciável desejo de
poder, refletia-se na forma como via o mundo: tudo era tratável, tudo era
negociável. As necessidades da população eram apenas mais uma prateleira a ser
reposicionada, de acordo com os seus caprichos e conveniências. E assim
governou, conduzido por uma ilusão de eficiência, sem perceber que o
supermercado da sua terra não se sustentava; as prateleiras vazias e os
sorrisos forçados logo desabariam, pois não bastava ser negociante para
entender a complexidade de um povo.
Com a ambição de expandir o seu império, começou a
entrar em conflito com os líderes das terras vizinhas, exigindo que alinhassem
as suas próprias gestões à sua forma de administrar, como se o mundo fosse um
único mercado a ser dominado pela sua visão. Não aceitava a diversidade das
outras práticas e impunha a sua lógica simplista e mesquinha, desprezando
modelos mais elaborados que outros haviam cultivado ao longo do tempo.
Para ele, o mercado global deveria ser como o seu
supermercado: um jogo de poder onde quem estivesse no topo ditaria as regras.
Mas, enquanto se enredava em guerras de vaidade e confronto, o seu próprio
império desmoronava.
Tal como as mercearias que um dia fundara e destruíra,
o supermercado também sucumbiu. A ilusão de que um país poderia ser tratado
como um mercado de trocas desmoronou como as frágeis prateleiras de um comércio
que se esquece da essência do que oferece. O ego inflado do comerciante, cego
às reais necessidades do povo, levou à falência não só dos seus negócios, mas
também da confiança que nele depositaram.
A terra, que ele pensava poder administrar com a
frieza calculista de um negociante, revelou-se um organismo demasiado complexo
para ser reduzido a simples transações. As promessas vazias não preenchiam as
prateleiras do supermercado da sua gestão, e a população, uma vez seduzida pela
falsa imagem de prosperidade, percebeu que o produto era apenas fachada —
vazio, sem valor e destinado ao colapso.
No fim, o supermercado afundou-se na mesma negligência
que arruinara as suas mercearias. O preço da sua cegueira foi pago com a
desilusão coletiva. As ruas encheram-se de vértices de fome e desespero,
enquanto as prateleiras já não sustentavam nem a esperança, quanto mais o
sustento. Quando a falência se tornou inevitável, ele tentou vender mais uma
mentira, mas não havia compradores para a ruína. E os outros comerciantes, que
um dia desprezara, limitaram-se a observar as ruínas do seu império, lembrando-se
de que nenhum comércio pode prosperar sem o respeito pelas complexidades que o
sustentam.
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