quarta-feira, 30 de abril de 2025

O Comerciante da Ilusão


Um comerciante, que ao longo dos anos fundara e arruinara várias mercearias, jamais conseguira compreender o que verdadeiramente movia os seus clientes. Entregava-se a caprichos desmesurados e a um desejo insaciável de lucro imediato, sem jamais se curvar ao saber das reais necessidades dos fregueses que o sustentavam. Cada fracasso era um reflexo do seu egoísmo, que o cegava à essência do comércio, reduzindo-o a uma busca incessante por gratificação própria.

 

Cansado de ver os seus negócios ruírem, decidiu aventurar-se na política, onde a sua faceta de negociante encontrou um novo palco. Com a arrogância de quem acredita que a gestão de um povo pode ser reduzida a um jogo de trocas e conveniências, candidatou-se à presidência e, surpreendentemente, triunfou. Muitas foram as suas promessas, assim como as mentiras que contou. Com um sorriso largo, mas desprovido de qualquer verdadeira compreensão das responsabilidades que lhe cabiam, lançou-se à tarefa de governar como se administrasse um supermercado, onde as pessoas eram mercadorias e os problemas, prateleiras a serem arrumadas conforme o seu gosto pessoal.

 

A sua psique, mescla de vaidade e insaciável desejo de poder, refletia-se na forma como via o mundo: tudo era tratável, tudo era negociável. As necessidades da população eram apenas mais uma prateleira a ser reposicionada, de acordo com os seus caprichos e conveniências. E assim governou, conduzido por uma ilusão de eficiência, sem perceber que o supermercado da sua terra não se sustentava; as prateleiras vazias e os sorrisos forçados logo desabariam, pois não bastava ser negociante para entender a complexidade de um povo.

 

Com a ambição de expandir o seu império, começou a entrar em conflito com os líderes das terras vizinhas, exigindo que alinhassem as suas próprias gestões à sua forma de administrar, como se o mundo fosse um único mercado a ser dominado pela sua visão. Não aceitava a diversidade das outras práticas e impunha a sua lógica simplista e mesquinha, desprezando modelos mais elaborados que outros haviam cultivado ao longo do tempo.

 

Para ele, o mercado global deveria ser como o seu supermercado: um jogo de poder onde quem estivesse no topo ditaria as regras. Mas, enquanto se enredava em guerras de vaidade e confronto, o seu próprio império desmoronava.

 

Tal como as mercearias que um dia fundara e destruíra, o supermercado também sucumbiu. A ilusão de que um país poderia ser tratado como um mercado de trocas desmoronou como as frágeis prateleiras de um comércio que se esquece da essência do que oferece. O ego inflado do comerciante, cego às reais necessidades do povo, levou à falência não só dos seus negócios, mas também da confiança que nele depositaram.

 

A terra, que ele pensava poder administrar com a frieza calculista de um negociante, revelou-se um organismo demasiado complexo para ser reduzido a simples transações. As promessas vazias não preenchiam as prateleiras do supermercado da sua gestão, e a população, uma vez seduzida pela falsa imagem de prosperidade, percebeu que o produto era apenas fachada — vazio, sem valor e destinado ao colapso.

 

No fim, o supermercado afundou-se na mesma negligência que arruinara as suas mercearias. O preço da sua cegueira foi pago com a desilusão coletiva. As ruas encheram-se de vértices de fome e desespero, enquanto as prateleiras já não sustentavam nem a esperança, quanto mais o sustento. Quando a falência se tornou inevitável, ele tentou vender mais uma mentira, mas não havia compradores para a ruína. E os outros comerciantes, que um dia desprezara, limitaram-se a observar as ruínas do seu império, lembrando-se de que nenhum comércio pode prosperar sem o respeito pelas complexidades que o sustentam.

 

 

 

 

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