sábado, 26 de abril de 2025

No Vazio da Verdade

 

A verdade não faz sentido,

e não há sentido para a verdade,

e o Já, já foi.

 

E o grito do momento ecoa dentro da alma,

de onde veio.

E há tanto para dizer,

sem que haja palavras para tanto sentir,

e se entenda a Voz que em nós escutamos.

 

Não há ouvidos para todos os sons,

nem compreensão que decifre todos os dialectos,

mas haverá sempre uma Voz,

para que não nos percamos,

mesmo que surdos nos encontremos.

 

E o relógio não pára,

tenha ou não ponteiros,

corda para dar,

ou pilha,

seja ou não relógio.

 

E o tempo voa,

sem ter asas,

e nós queremos saber o tempo,

como se houvesse tempo para saber.

Queremos saber tanto,

que nos perdemos no saber,

sem escutar a Voz.

 

Pisamos e repisamos,

damos mil e uma voltas antes de assentar,

e nunca temos o sossego que nos sossegue.

São dias,

são noites,

mas não há dias nem noites

que nasçam

ou se ponham dentro de nós.

Há um vazio imenso

por preencher,

e uma Voz,

uma Voz.

 

O tempo contamos,

porque nos disseram que era para ser contado.

 

A verdade quer-se verdade,

porque é mentira,

e mentir é feio,

e o feio é feio

porque há o que é bonito,

e ainda o mais bonito.

E eu sou o mais bonito,

porque tenho medo de ser feio,

e que os espelhos me persigam.

 

A comparação é a traiçoeira amiga da verdade,

nega a verdade de ser verdade,

sem a importância de se ser verdadeiro.

 

Tanta razão para o que nunca será razão,

porque não há razão para a razão.

A razão serve a dúvida,

e a dúvida alimenta a razão.

 

E porque haverá tanta dúvida para toda esta não razão?

Haverá certamente uma razão.

 

O tempo é este constante pensar

que não desliga.

Não há relógios para este pensamento,

e o Já é ainda mais breve,

quando as palavras se cruzam à razão da luz,

nas profundezas da escuridão de nós,

e acabamos por ter dificuldade sempre

em regenerar o sentido

para a Voz.

 

 


João Marques Jacinto

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