quarta-feira, 23 de abril de 2025

O Som da Acácia

 

Quando o ferro ainda não conhecia o fogo,

uma criança, com mãos pequenas e curiosas,

talhava uma máscara na madeira das estrelas,

quando uma lasca de acácia se soltou,

saltando no ar como um grito primordial.

O som não era de dor, mas de criação,

como o rugido de um leão que rasga o silêncio.

E a criança chamou os amigos,

pegou o fragmento, e no seu centro fez um buraco,

como quem busca o segredo do vento.

Com um cordel, girou, e o som tornou-se fogo,

a madeira da acácia, feminina e cálida,

recebeu o bastão de figueira, masculino e firme,

gerando a chama que acende a transformação.

A acácia não era mais apenas uma árvore,

era o princípio do mundo, o começo do som.

Na sua madeira, o segredo da criação se guardava,

e o fogo, gerado pela união dos opostos,

iluminava a noite onde a sabedoria se escondia.

Porque o fogo não era apenas destruição,

mas a chama que revela a verdade,

e a acácia, com seu zumbido,

era a voz que falava, sem palavras,

a língua dos deuses, a linguagem da terra.



João Marques Jacinto

 

 

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