Quando o ferro ainda não conhecia o fogo,
uma criança, com mãos pequenas e curiosas,
talhava uma máscara na madeira das estrelas,
quando uma lasca de acácia se soltou,
saltando no ar como um grito primordial.
O som não era de dor, mas de criação,
como o rugido de um leão que rasga o silêncio.
E a criança chamou os amigos,
pegou o fragmento, e no seu centro fez um buraco,
como quem busca o segredo do vento.
Com um cordel, girou, e o som tornou-se fogo,
a madeira da acácia, feminina e cálida,
recebeu o bastão de figueira, masculino e firme,
gerando a chama que acende a transformação.
A acácia não era mais apenas uma árvore,
era o princípio do mundo, o começo do som.
Na sua madeira, o segredo da criação se guardava,
e o fogo, gerado pela união dos opostos,
iluminava a noite onde a sabedoria se escondia.
Porque o fogo não era apenas destruição,
mas a chama que revela a verdade,
e a acácia, com seu zumbido,
era a voz que falava, sem palavras,
a língua dos deuses, a linguagem da terra.
João Marques Jacinto
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