quinta-feira, 24 de abril de 2025

Assédio


Escreves a medo,

em suaves linhas,

timidamente direitas,

inventadas expressões

ao agrado dos seduzidos,

na pele do desinteresse,

com laivos de resignação,

serena indulgência.

 

À medida que te leio,

repete-se o enredo,

as palavras arrastam-se,

entre o que és e tentas ser,

forçando limites,

mutando tentação em dor.

 

Leio-te, então,

despida de preceitos,

entrelinhas de instintos,

demónios a que te prendes,

fúrias nos argumentos,

desdita dos ditos,

alucinação dos perseguidos,

sombras da rejeição,

amor ferido,

orgulhosamente déspota,

pérfida,

maligna.

 

Não sou mais prisioneiro

de tuas palavras,

obrigado a ler-te,

só porque teimas

em me escrever.



João Marques Jacinto

 

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