Hou da barca
Para onde me levais?
Hou, prometedor de glórias,
com disfarces de timoneiro anjo,
e que, de outros, desfizestes,
como se nunca os tivesses sido,
o diabo
e o(s) companheiro(s).
Com moralidade,
na farsa do engano,
seduzistes,
ultrajastes
e nos traístes.
Não sou fidalgo,
nem burguês,
nunca enriqueci
por confiar dinheiro.
Não sou incrédulo
por ser imperfeito.
Tenho sangue judeu,
mas não sou usurário,
nem alguma vez
de procurador fiz,
e também não sou sapateiro.
Tenho outras mestrias,
procuro ser justo
sem ser corregedor
e justiceiro,
e até agora nunca
me tentei enforcar.
Falo e escrevo
sem muita à vontade,
promovo a (re)conciliação,
mas jamais serei alcoviteiro,
e tonto fui, somente,
por vossa causa.
Não quero promessas
de paraíso,
nem viver neste vil inferno.
Quero um par de remos
e que se faça barca a cidade,
bem guarnecida,
barca segura,
barca da vida.
Hou, barqueiro,
para onde nos levais?
Que por aí
não queremos ir.
Largai-nos
no próximo cais,
lá nos esperam
quatro bons cavaleiros,
a primavera
e a liberdade.
Hou da barca,
hou barqueiro,
abaixa aramá esse cu
e despejai aquele banco.
João Marques Jacinto
(2010/11)
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