quinta-feira, 24 de abril de 2025

A Barca do Engano


Hou da barca

 

Para onde me levais?

 

Hou, prometedor de glórias,

com disfarces de timoneiro anjo,

e que, de outros, desfizestes,

como se nunca os tivesses sido,

o diabo

e o(s) companheiro(s).

 

Com moralidade,

na farsa do engano,

seduzistes,

ultrajastes

e nos traístes.

 

Não sou fidalgo,

nem burguês,

nunca enriqueci

por confiar dinheiro.

Não sou incrédulo

por ser imperfeito.

Tenho sangue judeu,

mas não sou usurário,

nem alguma vez

de procurador fiz,

e também não sou sapateiro.

Tenho outras mestrias,

procuro ser justo

sem ser corregedor

e justiceiro,

e até agora nunca

me tentei enforcar.

Falo e escrevo

sem muita à vontade,

promovo a (re)conciliação,

mas jamais serei alcoviteiro,

e tonto fui, somente,

por vossa causa.

 

Não quero promessas

de paraíso,

nem viver neste vil inferno.

 

Quero um par de remos

e que se faça barca a cidade,

bem guarnecida,

barca segura,

barca da vida.

 

Hou, barqueiro,

para onde nos levais?

Que por aí

não queremos ir.

 

Largai-nos

no próximo cais,

lá nos esperam

quatro bons cavaleiros,

a primavera

e a liberdade.

 

Hou da barca,

hou barqueiro,

abaixa aramá esse cu

e despejai aquele banco.

 



João Marques Jacinto


(2010/11)

 

 

 

 

 

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