O Homem não foi feito à imagem de Deus.
Foi Deus que nasceu da ânsia humana,
da vontade de ser mais, de tocar o absoluto,
de vestir-se de poder e glória.
E no instante em que se vestiu,
esqueceu-se de ser humano.
Deus não é puro, não é eterno,
é o reflexo das misérias
e ambições da alma humana.
Vê, ouve, fala como um homem,
sente ciúmes, ira, amor, arrependimento.
E tem as mesmas armas:
castiga, destrói, faz pactos
e separa os justos dos ímpios.
O Deus da Bíblia não é o amor que acolhe,
mas o tirano que exige adoração,
que impõe a lei como espada,
que usa o medo como corrente,
para manter os corações subjugados.
E os homens, filhos dessa imagem,
seguem a sua própria vontade de poder.
Aos que dominam,
àqueles que se sentem deuses,
Deus é o espelho perfeito:
governam, julgam, condenam,
e prometem salvação a quem os serve.
A religião é a máscara de um império
que não quer ser questionado,
uma promessa de proteção enquanto aperta as algemas.
As leis de Deus não são para o bem comum,
mas para manter a ordem do poder.
São regras de subordinação, disfarçadas de salvação,
como uma falsa esperança, uma prisão dourada.
O medo é a moeda que compra as almas.
É a chama que acende a obediência,
a ameaça que mantém os corpos em linha.
“Se obedeceres, serás salvo,” dizem.
Mas a salvação é apenas um jogo de poder,
um truque usado para manter o império de Deus em pé.
E nós, homens e mulheres,
que criamos um Deus à nossa imagem,
não vemos que somos escravos de nossa própria criação?
A história repete-se:
aqueles que buscam ser mais do que são,
aqueles que buscam Deus dentro de si,
acabam por construir impérios que massacram a liberdade.
O trono celestial não é mais do que um reflexo do trono terreno.
Deus é tirano,
Homem e Deus, são a mesma carne,
o mesmo desejo,
a mesma ânsia de ser mais.
E enquanto isso, a humanidade segue sua marcha,
dividida entre a busca pela liberdade
e a tentação de ceder ao poder.
No final, não há Deus sem Homem,
nem Homem sem seu Deus.
Ambos criados da mesma vontade de dominação,
do mesmo medo de ser fraco.
Deus é a nossa invenção,
um espelho dos nossos próprios pecados.
E a história do homem?
É a história do seu desejo de ser Deus.
E do seu medo de perder a ilusão de ser Deus.
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