Havia um vento manso,
que passava pelas ruas,
tecendo risos e corpos
expostos ao desejo do sol.
As pedras não falavam,
mas pulsavam em cores vivas,
e os corações batiam
no compasso da liberdade.
Sem presságio de chamas,
sem a mão invisível,
sem o dedo que aponta,
sem a ordem do alto.
Mulheres dançavam com os homens,
cabelos ao vento,
mãos nos corpos alheios,
sem medo de condenação.
As crianças brincavam nas praças,
risos enredados, mãos que se tocavam
sem censura, sem medo,
do que o futuro traria.
Porque o futuro,
como um espelho quebrado,
não refletia promessas feitas
por sombras que não existiam.
Havia amor no ar,
e a noite caía suave,
onde as estrelas não julgavam,
onde o olhar do vizinho não era tribunal.
O ser era aceito em toda a sua forma,
sem rótulos, sem medo
de ser o que se era.
E quando o fogo chegou,
não foi a ira que queimou os campos,
mas o eco de um silêncio proibido,
o grito de um Deus que não entendia,
que não aceitava a dança do ser.
Eles amavam,
eles viviam,
e estavam livres.
Talvez fosse essa a única culpa,
de um povo que se recusou
a ser domado pela tirania
do que se diz eterno.
Nas suas ruas, os passos eram leves,
o céu não desabava.
Sodoma e Gomorra,
cidades sem rei, sem lei divina,
sem voz que os comandasse.
E por isso, eram felizes,
onde a felicidade se escrevia
nas mãos de cada um,
onde os corpos eram só corpos,
não cadeias.
Onde o amor era o único Deus permitido,
e a liberdade, o único princípio.
Quando o fogo chegou,
não foi para purificar,
foi para calar um grito
que ainda ecoa.
Mas eles sabiam,
nas suas praças onde as chamas não tocavam,
que a verdadeira destruição
não estava no fogo do céu,
mas no frio da obediência cega,
a um Deus que não amava
as mãos nuas.
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