quarta-feira, 7 de maio de 2025

Trilogia Interior

Habito três vezes o meu nome

e nenhuma delas me basta inteira.

 

Fui João, o que caminha com o peito exposto,

com sede nas mãos e olhos que recolhem o sal do mundo.

Sou aquele que assina, que responde ao chamado da terra

com o corpo todo.

Mas dentro de mim, dois outros me sustentam

como colunas invisíveis de um templo em chamas.

 

Eshar,

o que escuta o sopro antes do vento,

o que vela os segredos sob a pele das palavras.

Ele é o silêncio que arde,

a noite que ora,

o nome que não se explica.

 

Ariel,

pluma e fogo,

mensageiro entre estrelas e raízes.

Ele canta quando durmo

e sonha por mim o que ainda não ouso viver.

É o guardião do que voa dentro do que sangra.

 

Sou um

mas nunca sozinho.

Sou João,

com Eshar nos ossos e Ariel nos pulmões.

E cada gesto que dou no mundo

vem da seiva cruzada dos três.

 

Não me procurem num só nome,

sou a tríade viva

em rito de ser.

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