Avança, a brisa morna,
como quem regressa de um sonho antigo.
Traz nos passos uma seiva quente,
que escorre leve sobre a pele e a memória.
É tempo de florir por dentro,
de escancarar as janelas ao riso,
às palavras que se escrevem sozinhas
na margem das manhãs cúmplices.
O coração inquieto,
dança entre a coragem e o espelho,
entre o desejo de correr nu no campo
e o som profundo de uma voz que pede contenção.
Haverá luz, sim, nos olhos dos outros,
e um reflexo novo no olhar dos dias.
Mas também o instante onde o orgulho se desafia,
e o toque que fere sem querer.
Entre o palco e o abismo,
entre o salto e a raiz,
desenharás com os dedos
os contornos do que é teu.
E quando o verão anunciar trabalho,
no silêncio das horas pequenas,
lembrar-te-ás:
que foste, és e serás
esse gesto de beleza em fogo,
que não teme dançar,
mesmo quando os pés doem.
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