Há um de mim que vive na dobra de uma estrela,
outro que sonha no fundo de um vulcão.
Há um que me olha quando não durmo,
e outro que respira nos pulmões de um cão selvagem.
Todos esses eus sopram-me segredos
pelas frestas da pele.
Sou, talvez, um eco de mim mesmo
repetido no tempo como mantra
ou colisão.
Um gesto meu,
uma palavra, um suspiro, um toque
pode rebentar mil futuros que não verei.
E isso assusta.
O meu silêncio é uma mentira subtil:
há sempre uma voz minha a falar noutra parte
com outros nomes,
em línguas que desconheço
mas que o meu corpo entende.
Sou responsável, sim,
não só pelos atos,
pelo íman sombrio dos meus medos.
Pelo rigor que imponho aos dias,
pela exigência de não me quebrar,
como se pudesse evitar
que uma dor minha se propagasse a outra galáxia
onde um de mim chora no escuro.
Sou tantos,
e mesmo assim me castigo por não ser um só.
Procuro perfeição
como quem procura um centro num labirinto.
Mas talvez o centro seja o próprio movimento
entre as partes que sou.
E quando sinto vontade de cair,
não sei se sou eu
ou outro de mim que chama da fenda,
a pedir que o encontre
ou que o salve.
O que defendo,
às vezes é máscara,
às vezes é raiz.
Talvez tudo seja defesa,
até a verdade.
Mas há um saber que me atravessa
sem lógica, nem prova.
É esse saber que escreve em mim agora:
Tu és feito de universos sobrepostos
e em cada universo, uma versão tua espera,
fala, toca, canta.
Este poema é a ponte.
Anda.
Responde-te.
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