Não és ausência.
És presença densa,
matéria do que ainda não se disse.
Não és vazio,
mas abrigo,
onde o indizível repousa.
Sinto-te no intervalo entre os gestos,
na pausa entre dois pensamentos,
no que vibra
quando o mundo se cala.
Não estás na pressa,
nem no ruído.
Habitas a espera,
a respiração suspensa
que tudo sustém.
Ensina-me a ouvir o que não se pronuncia,
a tocar o que não tem forma,
a perceber o que se move
para lá do visível.
Que eu escute
a linguagem muda do céu,
o rumor das árvores,
o silêncio fértil da terra.
Que eu não perca o fio
do que é essencial.
Que saiba ouvir os outros,
não para responder,
mas para ficar.
E que me ouça a mim,
sem pressa,
sem defesa,
como quem se senta diante de um rio
e deixa correr.
Sou mais do que os meus pensamentos.
Sou o que se revela
quando o pensamento se retira.
E tu,
és ponte entre o que sou
e o que ainda posso tornar-me.
Que a escuta em mim seja presença,
clara, inteira,
com o coração desperto
e as mãos em repouso,
à espera do momento
em que a verdade se acenda.
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