quarta-feira, 7 de maio de 2025

O menino que esperava a primavera

Guardo em mim

um eco de luz que me habitava,

chegava com os dias mais longos

e não precisava de razão.

Era apenas alegria,

desmedida,

doce,

simples,

como o cheiro da terra quente

ou a luz a ferver nos muros.

 

E eu sorria sozinho,

sem saber porquê.

A felicidade era um estado do corpo

e do céu limpo.

 

Agora…

fico à espera que volte.

A cada primavera,

peço silêncio,

paz,

um sinal qualquer

de que ainda posso florir por dentro.

 

Mas o tempo pesa,

e o coração cansa-se da espera.

Já não sonho com o impossível,

mas lembro.

 

Lembro o menino que era,

e falo-lhe baixinho:

Ficaste comigo, eu sei.

Só estás mais fundo.

Talvez não saibas como sair agora,

mas estás.

 

E se algum dia voltares à superfície,

traz contigo aquela alegria antiga.

Mesmo que só por instantes.

Mesmo que só à janela.

 

Eu prometo não te afugentar com culpas,

com medos,

com razões.

 

Só te quero ver correr outra vez

dentro de mim.

Mesmo que seja devagar.

 

Que a paz me encontre,

sem que eu tenha de me esconder.

Que o tempo me ensine

a ser abrigo

da luz que ainda resta.

 

E se não for agora,

que eu aprenda a esperar sem me perder.

 

 

 

 

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