Guardo em mim
um eco de luz que me habitava,
chegava com os dias mais longos
e não precisava de razão.
Era apenas alegria,
desmedida,
doce,
simples,
como o cheiro da terra quente
ou a luz a ferver nos muros.
E eu sorria sozinho,
sem saber porquê.
A felicidade era um estado do corpo
e do céu limpo.
Agora…
fico à espera que volte.
A cada primavera,
peço silêncio,
paz,
um sinal qualquer
de que ainda posso florir por dentro.
Mas o tempo pesa,
e o coração cansa-se da espera.
Já não sonho com o impossível,
mas lembro.
Lembro o menino que era,
e falo-lhe baixinho:
— Ficaste comigo, eu sei.
Só estás mais fundo.
Talvez não saibas como sair agora,
mas estás.
E se algum dia voltares à superfície,
traz contigo aquela alegria antiga.
Mesmo que só por instantes.
Mesmo que só à janela.
Eu prometo não te afugentar com culpas,
com medos,
com razões.
Só te quero ver correr outra vez
dentro de mim.
Mesmo que seja devagar.
Que a paz me encontre,
sem que eu tenha de me esconder.
Que o tempo me ensine
a ser abrigo
da luz que ainda resta.
E se não for agora,
que eu aprenda a esperar sem me perder.
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