Fecha os olhos que usas para o mundo.
Abre os que ainda dormem na planta dos teus pés,
na dobra do teu estômago,
na respiração esquecida entre dois pensamentos.
Agora caminhas.
Não num lugar, mas num sentido.
Não com passos, mas com intenção.
À tua volta não há chão,
há vibração.
A realidade já não é forma,
é frequência.
E tu, que és som adormecido,
começas a lembrar o teu tom.
Surge uma ponte feita de coisas que não existem:
um desejo antigo,
uma memória que não viveste,
um nome que te chamaram antes de nasceres.
E mesmo sem sabê-lo,
reconheces-te.
Ali, ao longe, vem ao teu encontro
um de ti que nunca sentiste,
mas que sempre te faltou.
Traz-te nas mãos uma caixa feita de silêncio.
Quando a abre,
não há luz nem sombra,
apenas a certeza:
tu não és só este que sofre.
És também o que sonha
enquanto o outro sofre.
E és o que cura
sem saber que cura.
E és o que dança
sem saber que dança.
Aqui,
onde chegaste
porque deixaste de querer controlar,
a dor transforma-se em perfume.
A perda, em abertura.
A dúvida, em portal.
Não há mais separações:
o teu passado perdoa-te,
o teu futuro sorri,
e o teu presente desfaz-se numa brisa
que te limpa o medo
sem precisar de o nomear.
E então ouves,
não com os ouvidos,
mas com o corpo inteiro,
uma frase feita da matéria de que são feitos os
mundos:
"Descobrir-te é recriar o universo."
E nesse instante,
o sofrimento desiste.
Porque já não tens de ser perfeito,
nem entender.
Basta-te vibrar.
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