Recolho-me ao centro do que sou,
onde o tempo se curva e os nomes cessam.
Chamo cada parte perdida,
cada fragmento esquecido,
cada gesto que ficou suspenso
nas dobras da minha história.
Que venha o que vi no escuro
e me ensine a confiar na sombra.
Que venha o que sonhou demais
e dissolva as margens da razão.
Que venha o que ardeu no desejo
e reate a centelha onde me apaguei.
Que venha o velho que impôs silêncio
e me liberte sem culpa.
Que venha a criança que chorou em segredo
e me toque com mãos de verdade.
Que venha o que fala aos outros
e me devolva a palavra sagrada.
Sou agora
o todo que em mim faltava.
Sou o que ama, o que falha,
o que luta, o que teme,
o que ri no abismo e dança no fim.
Unifico.
Consagro.
Recebo.
O que era dividido em mim
agora se senta à mesma mesa,
bebe do mesmo fogo,
reconhece-se sem disputa.
E enquanto respiro,
a vibração que me criou
pulsando no invisível,
alinha-se ao que sou
e ao que ainda serei.
Agradeço.
E permaneço.
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