Não és rasgo,
mas dissolução.
O gesto lento de quem se desfaz
para que surja o que ainda não sei.
Sinto-te no contorno do que fui,
no limiar do que se anuncia.
E mesmo sem ver,
há um passo
que me move.
Não me peças que esqueça
as formas antigas.
Elas são chão,
mesmo quando já não servem.
Mas não deixes que me prenda.
Lembra-me:
é na mudança que respiro.
Se há parte de mim que quer sair,
não a cales.
Ela sabe do que me falta.
Não vive no medo
nem pertence ao passado.
Deixa-me seguir o que pulsa,
mesmo sem entender o rumo.
Mesmo se errante.
Sustém-me quando a pele velha cai
e a nova ainda arde.
Quando não sei o nome
do que estou a tornar-me.
Que eu saiba esperar o tempo da transmutação
e agradecer ao que me desfez
com o mesmo amor
com que abraço o que me refaz.
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