Se não nos escolhemos como quem pesa um acordo,
se não nos procurámos como quem mede vantagens,
se a amizade não se explica,
mas acontece num espaço onde a alma
reconhece a outra sem precisar de palavras,
Se somos presença que não exige,
o silêncio que não pesa,
a certeza de que, mesmo sem estarmos,
nunca estamos sós,
Se na amizade não há posse nem dívida,
apenas a alegria de ser diante do outro,
sem máscaras, sem medo,
sem precisar ser mais do que se é,
Se somos reflexo onde nos vemos sem nos perder,
um espaço onde podemos existir sem defesa,
onde a verdade não fere, mas ilumina,
Então, habitará em nós a autenticidade da essência da amizade.
Porque, apesar de cada um de nós desejar
ter autarquia, autarcia, autonomia e a imensidão do divino,
acabamos por nos reconhecer limitados e dependentes.
Portanto, se nos perguntarem porque somos amigos,
não saberemos responder,
senão que és tu,
e eu sou eu,
e nisto há um inexplicável infinito,
nesta nossa breve e inconfundível finitude.
(Poema dedicado à minha amiga, pelo seu aniversário,
em 13 de Abril de 2025.)
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