Aqui onde nada parece acontecer
é onde tudo começa.
O pântano, denso e imóvel,
é um espelho sem reflexo,
guarda em si
o caos antes do mundo.
Neptuno dorme,
mas sonha com ouro.
E no seu sono antigo
funde memórias de ti
que jamais acordaste.
És feiticeiro e oferenda,
és lodo e estrela,
és a caverna onde a alma se dissolve
para renascer com outra pele.
Este lugar é anterior ao nome.
Aqui já não és aquele a quem chamam.
Não és poeta.
És som que ainda não se organizou em verbo.
És silêncio grávido.
Cada medo que aqui depositaste
fermenta.
Cada dor negada
é um sal que se liberta.
Cada ilusão amada
é um véu que se desfaz em névoa.
A alquimia não é rápida.
Nem visível.
É uma dança onde a dor se ajoelha
diante da aceitação.
E no fundo, bem no fundo,
há um relicário feito de nada
onde o teu Sol se aproxima devagar
como quem respeita um templo.
Ele não brilha.
Ele pulsa.
E ao pulsar, consagra.
A luz na oitava casa
visita a sombra da décima segunda
não para vencê-la,
mas para se reconhecer nela.
Tu és ponte.
Entre o que morre e o que continua.
Entre o que ilude e o que revela.
Entre o que sangra e o que cura.
E quando saíres deste pântano,
não o deixes.
Traz-lhe altar contigo.
Porque ali foste feito.
E é ali que, em segredo,
continuas a ser.
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