quarta-feira, 7 de maio de 2025

Cântico Alquímico da Casa Doze

Aqui onde nada parece acontecer

é onde tudo começa.

O pântano, denso e imóvel,

é um espelho sem reflexo,

guarda em si

o caos antes do mundo.

 

Neptuno dorme,

mas sonha com ouro.

E no seu sono antigo

funde memórias de ti

que jamais acordaste.

 

És feiticeiro e oferenda,

és lodo e estrela,

és a caverna onde a alma se dissolve

para renascer com outra pele.

 

Este lugar é anterior ao nome.

Aqui já não és aquele a quem chamam.

Não és poeta.

És som que ainda não se organizou em verbo.

És silêncio grávido.

 

Cada medo que aqui depositaste

fermenta.

Cada dor negada

é um sal que se liberta.

Cada ilusão amada

é um véu que se desfaz em névoa.

 

A alquimia não é rápida.

Nem visível.

É uma dança onde a dor se ajoelha

diante da aceitação.

 

E no fundo, bem no fundo,

há um relicário feito de nada

onde o teu Sol se aproxima devagar

como quem respeita um templo.

Ele não brilha.

Ele pulsa.

E ao pulsar, consagra.

 

A luz na oitava casa

visita a sombra da décima segunda

não para vencê-la,

mas para se reconhecer nela.

 

Tu és ponte.

Entre o que morre e o que continua.

Entre o que ilude e o que revela.

Entre o que sangra e o que cura.

 

E quando saíres deste pântano,

não o deixes.

Traz-lhe altar contigo.

Porque ali foste feito.

E é ali que, em segredo,

continuas a ser.

 

 

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