Rodrigo Mikhael | José Heitor Santiago | Manuel da Rosalina | Raimundo Manuel Barros l Ariel I Eshar I Aurelius
segunda-feira, 28 de abril de 2025
Deus à Imagem do Homem
domingo, 27 de abril de 2025
Tu, aí
É bem possível que tenha chegado aos cem,
vivido até aos cento e qualquer coisa,
porque cada vez se morre mais tarde,
mas não sei, se da melhor maneira.
Mas se Tu aí, onde estiveres,
tomaste conhecimento desta mensagem
e da minha existência e a quiseres mudar,
em qualquer altura, a meu pedido, claro,
faz o favor de o fazer agora,
quando ainda tenho cinquenta, já feitos,
em dois mil e nove, do calendário gregoriano.
E assim, outro tanto poderei usufruir.
Encontro-me aqui, por Sete Rios,
pertencente a uma espécie do reino animal, o Homo
Sapiens,
em Lisboa, a cidade da saudade, onde desagua o Tejo,
neste pequeno país europeu, chamado Portugal,
banhado pela imensidão do Atlântico,
no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,
onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à
vida,
e pelo poder,
e pela sobrevivência,
e em nome de deus(es),
e por prazer,
localizado entre biliões de outras estrelas da Via
Láctea,
que integra com mais de três dezenas de galáxias o
Grupo Local,
no Superaglomerado de Virgem,
etc., etc., etc…
Liberta-me deste Ego, enorme, doentio,
herança canceriana, que me abafa a inteligência
que me liga ao Universo,
prende-me à insignificância que não (pres)sinto,
e à Terra,
à forma,
ao estilo…
Porque sou o que nem sei,
e quero evoluir,
seguir o movimento da espiral,
sentir-me em casa,
e paz.
E não me canso de olhar para este céu,
onde se desenha o presente,
num relógio meu, com dez ponteiros,
e Te procurar mais além, nas estrelas.
Mas, se aí Te visse, estarias em outro tempo,
talvez, quando reinava o Luís XIV,
e eu, aí, nem Te (re)conhecesse.
Haverá outro caminho,
e terei, sempre em dois mil e nove,
feito cinquenta,
e à Tua espera.
João Marques Jacinto
O Amor, Cego e Cativo
Como se converte alguém ao amor,
sem questionar a intolerância da lei?
E nega-se tudo o que poderia ser vivido.
O que se deveria entender é tão obscuro,
que novos devaneios surgem,
criando entretenimento para a culpa.
Como se pode ser tão pouco,
diante de tanto amor,
e ser o que querem de nós,
para que continuemos a ser com eles?
Como é que alguém se converte ao amor,
se deixando cegar pela paixão que outros inventaram?
E o amor é domínio!
Na rigidez dos géneros,
tudo se emaranha,
nada se esclarece,
e todos se dizem certos.
Fado Pesado
Sou pedaço de vida,
deitado na Sombra
de uma multidão.
Sou força vencida,
mergulhada e perdida
em desilusão.
Sou dor viciada
em choro e pranto,
sem poder fugir.
Sou, no sofrimento,
o espelho do tempo,
sem nunca o medir.
Sou um rosto secreto
e incompreendido
na palavra "sim".
Sou um resto de gente,
vergado ao silêncio.
Não se riam de mim.
Sou povo enjeitado,
em nudez sem encanto,
carrego minha cruz.
Sou um fado pesado,
sou compasso trinado,
sou canto sem luz.
Se digo o que sinto
e minto no que sou,
não o faço por querer.
Não me disfarço
nem me escondo
no falso sentido
do que acabo por ser.
Se me dou e desfaço,
se luto esquecido
e vivo insatisfeito,
sou, no cinzento-tristeza,
verbo conjugado
pretérito imperfeito.
Sou um rio parado,
sem margens, sem leito,
sem fundo, sem foz.
Uma barca sem remos,
sem redes, sem leme,
sem velas, sem nós.
Sou tarde poema,
de versos sem rima,
lenta de se pôr.
Sou, por entre o nevoeiro,
o que desaparece
e se apaga de cor.
Sou um resto de gente,
o que sobra do início,
o que falta para o fim.
Vergado ao silêncio,
não se riam mais de mim.
A Coragem da Alma
Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se, em contrariedade,
a arrogância do preconceito.
Sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador,
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo,
foge-se do amor.
Cobre-se de negro
o espelho que reflicta
a coragem da alma.
Habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente,
no arrependimento
de nunca se ter vivido.
Impera a inteligência do Espírito.
Ainda é tempo de abundância
na riqueza de se ser feliz,
diferente,
eu.
A Vida que se Escreve
Tudo é um mistério,
até ao que me proponho,
sem nunca perceber bem a razão
do que, ao certo, me motiva
e impulsiona
a esta constante procura
e mutação.
Os versos são como rios
difíceis de trancar
dentro da nascente
de todas as recordações.
E pesado é o mundo
que carrego,
sem nunca entender,
se é mal
ou bênção.
Mas, valha-me o Amor,
pois só nele
me acredito
e conduzo,
mesmo como poeta,
esperando que a vida se escreva
mesmo que em poucos versos,
mas belíssimos,
em poesia.
João Marques Jacinto
Partiste
Partiste,
e eu fiquei só,
neste tempo que se perde,
em agonia,
por um sonho verde.
Neste fado que lamento,
que canto,
e tenho na voz amarga
do pensamento.
João Marques Jacinto
sábado, 26 de abril de 2025
Um dia inda te hei-de escrever
Um dia,
inda te hei-de escrever
dizendo o que souber,
e seja possível.
Escolherei
as melhores palavras,
as que possam tão bem simbolizar
o que nos convenha
como possível.
Esgotá-las-ei
até que nos caibam
e sirvam de vestes
ao olhar possível
da nossa beleza,
preferivelmente possível.
Querer-te-ei
em cada verso possível,
e serás
a minha mais que possível
poesia.
Porque, sempre que nos seja possível,
te reescreverei
até tocar
a impossível
perfeição.
A Poesia é sempre possível
quando a supomos.
João Marques Jacinto