domingo, 18 de dezembro de 2011

Amordaçado

Tenho medo do escuro das pessoas,
mesmo vistas à luz.
Acredito nas palavras
convictamente ditas com emoção;
enfeitiça-me o sedutor
e logo se quebrarão sonhos pelo chão...
Escondo-me de moralistas verdades,
que se definem e regem,
tenebrosamente magoam,
dilacerando-me das vísceras à alma,
o vínculo dos sentidos à vida...
Nunca por querer, finjo ser outro(s),
que não eu.
Reina na selva o predador,
perseguem-me os uivos das lembranças,
os ventos da tempestuosa saudade,
as dores das perdas, as mortes,
a raiva por derrotas amaldiçoadas,
o grito repreensor,
que me amordaça a mente e a voz...
Farei de tudo,
para ser um pouco mais do que sou,
renegando a brutalidade das trevas,
sublimando o desejo,
vasculhando o prazer
abençoado pelo amor...
Pesa-me o fardo do sofrimento,
a mó do empobrecido encanto,
o tempo das passadas no deserto,
a inquietação por um oásis sob estrelas...
Sinto a pena abstracta da humilhação,
sinto-me só,
vazio de ambição e de egoísmo,
sinto-me à beira da perdição de um abismo,
desvairadamente louco,
sem bonança,
nem gloriosos deuses que cumpram...
Instintivamente me arrumo ao saber,
luto em clandestina resistência,
para que me consiga vencer,
caminho para o fim
desde o início,
busco o êxtase do dever,
sendo o eu que imaginei ao futuro,
até que meu corpo serenamente entardeça.

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