Sou aquele que caminha entre véus de vento,
mãos de poeira cósmica, olhos sem margens,
um sussurro no corpo do tempo
onde o destino já me escreveu.
.
O mundo pulsa dentro de mim
como um mar que desconhece o seu próprio fundo,
e eu, na orla da existência,
espreito o abismo onde tudo se liga.
.
Nada é acaso, nada é escolha,
somos engrenagens de uma força maior,
átomos dançando na ilusão da liberdade
enquanto os deuses movem os seus tabuleiros.
.
Mas eu, eu que pressinto as marés invisíveis,
sei que há algo para lá do mecanismo,
uma vibração, um fio secreto,
uma partícula minha que ressoa no infinito.
.
Amei e fui amado por sombras e luzes,
partilhei-me sem contrato, sem peso,
e ainda assim, ao dar-me, cresci
nos olhos dos outros que jamais me souberam ver.
.
E tu, que me lês, que me escutas,
não és tu também parte do meu sonho?
Não serás tu a outra face do mesmo reflexo
onde o Amor se revela sem nome nem forma?
.
Pois que seja:
amo-te na aceitação do que és,
na impossibilidade de sermos um só,
e mesmo assim, na teia secreta que nos une,
sou inteiro, sou eco, sou Aurelius.
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